Como funcionar quando se é TDAH?

Ilustração cortesia de Net Working RH.

Olá, amigos e amigas. Tudo belezinha com vocês? Espero que sim... Há algum tempo atrás falamos um pouquinho sobre o TDAH, sobre levar uma vida desorganizada, sobre ser uma pessoa em constante desconstrução. Gosto de fazer relatos, de tempos em tempos, da minha própria experiência, pois em contando aqui como eu supero cada obstáculo da minha mente tortuosa, eu espero estar ajudando quem também passa por isso. E somos muitos, em graus variados de desorganização. 

Vamos falar um pouquinho sobre o que eu considero um dia bom, e como faço para conseguir ter um desses. Falando assim, até parece que não consigo fazer nada, não é? Mas, meus clientes, se estiverem lendo isso, tenho certeza que têm outra impressão. Gosto de trabalhar. Gosto de servir bem às pessoas, gosto de realizar um trabalho que possibilita uma melhora na vida de alguém. E gostar do que se faz é sempre o primeiro passo para se fazer direito, para qualquer um. Mas meu processo para alcançar resultados é um pouco diferente. E minha satisfação em fazer também requer um jeitinho todo especial.

Um dos componentes mais óbvios do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade é a incapacidade de focar a atenção numa mesma atividade por muito tempo. Eu já percebi isso em mim. Um dia produtivo é aquele cheio de atividades diferentes, todas ao alcance das mãos. Eu faço meia hora de trabalhos manuais - bijuterias, origami, trico ou crochet -, e mudo para a lavação da louça, por exemplo. E aí, daqui meia hora, estou na frente do computador, escrevendo para um de meus blogs. E, daqui um pouco, estou nas ruas, passeando com os cachorros dos clientes... E passo o dia todo assim, bem ocupada, desenvolvendo vários projetos ao mesmo tempo. 

Parece loucura, mas pra mim é assim que consigo funcionar bem, e ter pelo menos a metade dos meus projetos terminados ao fim do dia. E é sempre bom, quando escurece, é sempre reconfortador, perceber que produzi algo, que completei algo que não existia pela manhã. Para quem não tem problemas com atenção e hiperatividade, tudo isso que estou falando soa trivial e de pouca importância. Mas para quem tem o TDAH aprender a funcionar, e conseguir fazer disso uma rotina, tornando boa parte de seus dias produtivos, é uma vitória. 

Imaginem agora, um aluno com esse problema, tendo que passar quatro ou cinco horas na escola, com basicamente a mesma atividade durante este tempo. Imagina uma secretária, que passa o dia todo sentada, fazendo basicamente as mesmas coisas. Um médico cirurgião, que passa horas num mesmo procedimento... Não estou dizendo que não somos capazes de fazer tudo isso. Como disse no início, há graus e graus de déficit de atenção. O que estou alertando a todos aqui é que levem isso em consideração ao perceberem a dificuldade de seu colega de trabalho em se adequar a um esquema pré-estabelecido. Professores, atentem ao aluno que parece estar prestando atenção na aula, mas não consegue tirar boas notas. Mães, atentem aos filhos que passam horas numa mesma atividade, e não conseguem concluí-las. Passei por todas essas situações... Aonde o procrastinar era uma patologia. E me pego fazendo isso ainda hoje, muitas vezes. Perdendo meu tempo em coisas que não vão evoluir, simplesmente por não conseguir estar realmente focada na atividade. É preciso se policiar sempre...

A quem está se identificando demais com meu texto, tente se conhecer melhor. Demorou trinta anos para que eu descobrisse que eu tenho um tempo e um jeito diferente para fazer as coisas, e que apresento melhores resultados quando não sou pressionada, ou obrigada a fazer as atividades da forma convencional. É preciso querer se conhecer, é preciso admitir os pontos fortes e os pontos fracos, e aí, trabalhar estratégias para conseguir produzir. Por que nos sentimos melhores quando alcançamos bons resultados. 

Este texto é mais pessoal, mas está cheio de dicas e orientações, principalmente para os adultos lidando com as mesmas dificuldades que eu tenho. Espero que seja útil para muitos. 

JulyN.