Ads 468x60px

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Vivendo com TDAH! Atitudes que parecem uma coisa e são outra...

Linda e verídica ilustração,
cortesia de Reflexões de um TDAH.
Olá, amigos e amigas. Espero que estejam todos bem... Faz um tempinho que não posto um de meus textos mais informativos aqui. É que, antes de postar para vocês, faço sempre uma pesquisa semi-científica, eu diria, para poder passar informações verificadas por profissionais competentes, e não criar mitos desnecessários e perigosos. E aí, às vezes - ok, quase sempre - acabo me perdendo em minhas pesquisas. O trabalho e a vida diária me ocupam e me distraem, e acabo demorando demais para postar aqui. 


Pois bem... Algumas pessoas vem a mim curiosas e sedentas de um olhar interno, quando descobrem minha condição de portadora do déficit de atenção. Este texto resolvi fazer para partilhar uma descoberta que fiz, empírica. Claro que, como Fonoaudióloga, posso discorrer bem sobre a teoria por trás deste transtorno. Mas, em tendo-o, posso também mostrar a vocês como é o dia-a-dia de fato de um portador, e ajudar a você, que tem um filho, ou um conhecido qualquer com o mesmo problema, a entender melhor o que se passa. 

Ontem eu estava voltando pra casa no fim da tarde. Saí do metrô e encarei a caminhada de uns 800 metros que leva à minha residência. Gosto de caminhar quando não estou cansada. Quem me conhece bem está acostumado a me ver sempre com fones de ouvido à mão. Isso quando não estou de fato com eles nas orelhas, ouvindo música, enquanto caminho ou faço outra atividade. Passei a ter o hábito de desligar o som e tirar os fones em respeito às pessoas, quando estamos conversando, quando ouvi de uma amiga que isso a fazia se sentir desprestigiada. Este foi um esforço de minha parte, e já vou explicar por que. Como eu parei na loja da Cacau Show para fazer uma pergunta, e já tinha essa intensão ao sair do metrô, então desliguei a música e guardei os fones no bolso. Depois de conversar com a moça da loja, acabei me esquecendo de ligar a música de novo, e fui caminhando, ao som ambiente da Avenida Domingos de Moraes, aqui em São Paulo. No fim da tarde... Carros... Muitos carros e gente mal educada que buzina por nada e breca brusco, dirigindo. Pessoas, sapatos, um menino chacoalhando o chaveiro, uma moça mastigando chiclete, outra conversando ao celular, a pastilha gasta do ônibus, uma criança abrindo o saco de salgadinho na saída da Americanas, tudo... TUDO! Inclusive o mais doído dos sons: o salto alto de uma senhora que caminhava ao meu lado. Por que a batida do salto me fazia lembrar, uma a uma, a dor que sinto quando eu uso salto. E eu estava de tênis. 

Acabei perdendo a rua em que gostaria de entrar para chegar em casa, e entrei só na próxima, quando me toquei que o percurso estava mais longo que o normal. E, é isso... Esta sou eu. Se alguém tentasse falar comigo naquele momento, eu provavelmente não escutaria. Não por ser surda... Mas por não conseguir fazer esse filtro, que faz com que prestemos mais atenção em uma coisa do que em outra. A informação entraria em minhas orelhas, mas não se reteria em meu cérebro, provavelmente. Os sons ambientes da rua me cansam, por que todos eles me fazem pensar e agir, tudo ao mesmo tempo.

Ilustração lindinha, cortesia de Falando com as Paredes.
O que isso tem a ver com os fones? Sempre gostei de música, minha vida inteira. Mas sempre recorri a ela em dois momentos especiais: quando a situação psicológica exigia - música é um conforto pra mim - ou quando queria 'apagar' os outros sons em volta... Por que tudo é muito no meu universo. Não consigo lidar com várias informações entrando ao mesmo tempo. Então, troco todas elas por uma única, a música, e aí consigo me concentrar no que eu tiver que fazer, inclusive conversar com um amigo, pois o trabalho que tenho que fazer é de só focar a atenção na fala de quem está comigo, ao invés de tentar abstrair também uma série de sons em volta. Não é uma matemática exata. É o que funciona pra mim, que pode não fazer sentido para outra pessoa, e nem ser útil para outro TDAH.

Uma coisa que percebi em relação ao meu distúrbio é isso: minha atenção auditiva é curta e de pouca qualidade. Informações escritas para mim são mais úteis. E este foi um dos problemas que enfrentei na escola, a vida toda, sem saber. As aulas são dadas com um professor falando durante uma hora... E nem tudo o que ele fala está nos livros ou é escrito em algum lugar. Copiar? Ditado? Eu raramente consigo ouvir e escrever ao mesmo tempo. Muita atenção tem que estar voltada pras duas atividades, e o distúrbio é de atenção, não é? 

Então... Não sou relaxada, não sou preguiçosa, não faço corpo mole, não sou anti-social. Porto um distúrbio, que dificulta a entrada de informações pelas vias consideradas normais. E isso significa que as coisas funcionam de uma forma diferente pra mim. Mas, funcionam!!! Quando estou trabalhando, eu garanto, e me orgulho disso, sou a melhor no que estou fazendo, por que me dedico. Posso parecer distraída e sem conhecimento aos que olham em volta, quando chego com minhas calças largas e meu fone de ouvido. Posso não aparentar ter conhecimento nenhum. Mas não se engane. Os fones de ouvido possibilitam que eu me concentre e aprenda muito, a postura mais displicente me permite estar confortável para conseguir me manter focada na mesma atividade por mais tempo... 

Atenção, pais! Não vá rotulando seus filhos em idade escolar de vagabundos e preguiçosos sem antes checar os processos que ele usa para naturalmente apreender informação. Por que aprendizado não acontece só na escola. Mas a escola é engessada em seus métodos de passar informação, e pode estar excluindo seu filho do processo com isso. Observe seu filho. Veja como, em casa, ele se porta diante dos desafios que lhe são colocados... Não torne a vida escolar de seu filho um inferno. Seja parceiro dele. 

Espero ter ajudado, com essa postagem, a dar uma pequena ideia do que é viver com transtorno de atenção. Falaremos mais em breve, sobre outras características a serem observadas. E, se você leu isso aqui e ficou na dúvida, conhece alguém, ou se colocou na situação, estou à disposição para outros esclarecimentos e te ajudar a procurar o profissional certo para fazer uma boa avaliação. Nem toda desatenção é doença. Nem todo aparente desleixo é preguiça!



JulyN.

0 comentários:

Postar um comentário