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quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Transtorno de Déficit de Atenção - vamos entender?

Foto cedida pelo blog Seres Adolescentes.
Ultimamente, por conta da proximidade das provas vestibulares, tenho conversado com muitas mães sobre o desempenho de seus filhos adolescentes nas escolas. E até atendi algumas delas, na tarefa de organizar o tempo de seus filhos, e a vida, para que eles conseguissem se concentrar melhor nos estudos. Meus conhecimentos em Fonoaudiologia acabam ajudando nesta hora. E, justamente por perceber que há dois tidos de mães - a que não vê problema nenhum em seu filho com dificuldades, e a que começa a dar diagnósticos para tudo o que vê -, resolvi escrever esta postagem. Vamos desmistificar o Distúrbio de Déficit de Atenção?


Acabamos de citar este mal pelo nome mais usado pelo público em geral, por conta da sigla que acaba sendo usada para determiná-la - DDA. Mas, desde 1994, para fins de diagnóstico, a palavra distúrbio foi trocada pela palavra transtorno. Então, estamos tratando do Transtorno de Déficit de Atenção - agora conhecido como TDA. 

O que é o TDA? 

"O TDA é uma síndrome (conjunto de sintomas) caracterizada por distração, agitação/hiperatividade, impulsividade, esquecimento, desorganização, adiamento crônico, entre outras. Pessoas com TDA - Déficit de Atenção - tem dificuldade em manter a concentração, costumam ser agitadas e tem problemas para fazer as coisas até o final. Encontrar estes sintomas em crianças e adultos é comum. Porém, quando se trata do transtorno, as queixas são mais frequentes e os sintomas muito mais intensos." E tais sintomas acabam por acarretar muitas áreas da vida do indivíduo, direta ou indiretamente. 


"Normalmente, em atividades como estudo, leitura ou outras que exijam concentração, o cérebro aumenta os níveis de ativação, justamente para dar conta das exigências. Nos casos típicos de TDA, a característica psicofisiológica mais comum é a hipofunção/hipoativação do córtex pré-frontal, na qual uma quantidade significativa de neurônios pulsam mais devagar que o esperado, especialmente quando as circunstâncias exigem maior esforço mental e, portanto, maior ativação.


Estes desequilíbrios estão relacionados à ação de neurotransmissores, que por sua vez determinam os disparos elétricos dos neurônios. Apesar de não haver certeza sobre as causas destas alterações, estudos já apontaram forte correlação entre TDA, tanto na forma de déficit de atenção quanto de hiperatividade e impulsividade, com hereditariedade."

Pode haver TDA sem hiperatividade?


Sim, pode. Atualmente admite-se um espectro de sintomas para este transtorno. É importante se observar que a principal característica dele não é a hiperatividade, e sim, a falta de capacidade de concentração. A título de diagnóstico, hoje em dia se aceitam três tipos principais do transtorno. São eles:

Tipo Desatento

  • Desvia facilmente a atenção do que está fazendo e comete erros por prestar pouca atenção a detalhes. Muitas vezes distrai-se com seus próprios devaneios ou então um simples estímulo externo tira a pessoa do que está fazendo.
  • Dificuldade de concentração em palestras, aulas, leitura de livros... (dificilmente termina um livro, a não ser que o interesse muito).
  • Às vezes parece não ouvir quando o chamam (muitas vezes é interpretado como egoísta, desinteressado...)
  • Durante uma conversa pode distrair-se e prestar atenção em outras coisas, principalmente quando está em grupos. Às vezes capta apenas partes do assunto ou enquanto "ouve" já está pensando em outra coisa e interrompe a fala do outro.
  • Relutância em iniciar tarefas que exijam longo esforço mental.
  • Dificuldade em seguir instruções, em iniciar, completar e só então, mudar de tarefa (muitas vezes é visto como irresponsável).
  • Dificuldade em organizar-se com objetos (mesa, gavetas, arquivos, papéis...) e com o planejamento do tempo (costuma achar que é 10 e que o dia tem 48h).
    Problemas de memória a curto prazo: perde ou esquece objetos, nomes, 
    prazos, datas... Durante uma fala, pode ocorrer um "branco" e a pessoa esquecer o que ia dizer.
Gravura cedida por Nosso Clubinho.
Tipo Hiperativo-Impulsivo


  • Inquietação – mexer as mãos e/ou pés quando sentado, musculatura tensa, com dificuldade em ficar parado num lugar por muito tempo. Costuma ser o "dono" do controle remoto.
  • Faz várias coisas ao mesmo tempo, está sempre a mil por hora, em busca de novidades, de estímulos fortes. Detesta o tédio.
  • Consegue ler, assistir televisão e ouvir música ao mesmo tempo. Muitas vezes é visto como imaturo, insaciável.
  • Pode falar, comer, comprar,... compulsivamente e/ou sobrecarregar-se no trabalho. Muitos acabam estressados, ansiosos e impacientes: são os workaholics.
  • Tendência ao vício: álcool, drogas, jogos, Internet e salas de bate papo…
  • Interrompe a fala do(s) outro(s); sua impaciência faz com que responda perguntas antes mesmo de serem concluídas.
  • Costuma ser prolixo ao falar, perde sua objetividade em mil detalhes, sem perceber como se comunica. No entanto, não tem a menor paciência em ouvir alguém como ele, sem dar-se conta que é igual.
  • Baixo nível de tolerância: não sabe lidar com frustrações, com erros (nem os seus, nem dos outros). Muitas vezes sente raiva e se recolhe.
  • Impaciência: não suporta esperar ou aguardar por algo: filas, telefonemas, atendimento em lojas, restaurantes..., quer tudo para "ontem".
  • Instabilidade de humor: ora está ótimo, ora está péssimo, sem que precise de motivo sério para isso. Os fatores podem ser externos ou internos, uma vez que costuma estar em eterno conflito.
  • Dificuldade em expressar-se: muitas vezes as palavras e a fala não acompanham a velocidade da sua mente. Muitos quando estão em grupo, falam sem parar sem se dar conta que outras pessoas gostariam de emitir opiniões, fazer colocações e o que deveria ser um diálogo, transforma-se num monólogo que só interessa a quem está falando.
  • A comunicação costuma ser compulsiva, sem filtro para inibir respostas inadequadas, o que pode provocar situações constrangedoras e/ou ofensivas: fala ou faz e depois pensa.
  • Tem um temperamento explosivo: não suporta críticas, provocações e/ou rejeição. Rompe com certa facilidade relacionamentos de trabalho, sociais e/ou afetivos.
  • Pode mudar inesperadamente de planos, metas…
  • Sexualidade instável: pode alternar períodos de grande impulsividade sexual com outros de baixo desejo.
  • Hipersensibilidade: pode melindrar-se facilmente, tendo uma tendência ao desespero, como se seu mundo fosse desmoronar-se a qualquer instante, incapacitando-o muitas vezes de ver a realidade como ela realmente é, e buscar soluções.
Tipo Misto

O TDA misto apresenta sintomas dos dois outros tipos descritos acima, de maneira pontual. Podem ser compulsivos em alguns aspectos da vida, enquanto são mais calmos e 'desligados' em outros.  É o tipo mais difícil de identificar, por não apresentar comportamentos extremos em nenhuma área da vida cotidiana. Mas sim, com um pouco de atenção, é possível perceber, através das falhas sociais e de alcance de objetivos, que há um problema com a pessoa.

Meu filho é portador do Transtorno de Déficit de Atenção?

A principio, todo ser humano veio ao mundo com vontade de aprender. O conhecimento, por mecanismos químicos e biológicos, causa grande satisfação a todo indivíduo. Então, é de se esperar que toda criança, na escola, sinta prazer em aprender, e superar seus próprios limites da sabedoria. Tenha isso em mente. Se seu filho está sofrendo na escola, se não consegue acompanhar a turma, se tem alguns problemas sociais, as chances são de que ele tenha sim algum problema cognitivo que o impeça de acompanhar o ritmo e as interações sociais do modo esperado. Há uma gama de dificuldades cognitivas da infância, e também dificuldades físicas, que podem resultar neste quadro. A criança com TDA, apenas, não apresenta nenhum problema físico. Quando há o componente da hiperatividade adjunto ao transtorno, a identificação é mais simples, por conta dos comportamentos sociais exuberantes. 

Mas há os desatentos e mistos. Estes normalmente passam por preguiçosos, pouco esforçados. E podem, por vezes, nunca receber um diagnóstico e um tratamento adequado. A longo prazo, por conta da marginalização social, inclusive por parte dos familiares, este indivíduo pode crescer com grandes dificuldades de produção e de interação social. É importante, neste caso, que haja esta primeira observação, e a certeza de que todo ser humano gosta de aprender. Se há alguma dificuldade perene, algum problema há, e ele deve ser devidamente endereçado. 

Fonoaudiólogos e Psicopedagogos são os profissionais mais indicados a lhe responder qual o problema do seu filho. Uma avaliação clínica completa por parte desses profissionais é capaz de identificar os problemas ligados ao aprendizado e à comunicação, sejam eles quais forem. À partir daí, seu filho será encaminhado para outros profissionais, de acordo com a necessidade dele. Os pais precisam apenas estar atentos a estas dificuldades iniciais, para poder, com propriedade, encaminhar seus filhos para um desses serviços. 

Se meu filho tem TDA, como curá-lo?

Não dá... O TDA não tem cura. Trata-se de um 'curto-circuito' no cérebro, e não há como trocar neurônios ou transplantar um novo órgão. Mas há tratamento para o transtorno, e ele passa pela terapia comportamental. Fonoaudiólogos e psicólogos fornecerão maneiras e estratégias para que o portador consiga superar suas dificuldades, aumentando um pouco através de exercícios seu nível de atenção, por exemplo. Quanto mais cedo vem o diagnóstico, melhor é o prognóstico, pois o cérebro jovem ainda não está completamente formado, e pode desenvolver novos caminhos para o processamento das informações recebidas. 

Sou adulto! E só agora recebi o diagnóstico. O que fazer?

Eu também já era adulta quando fui diagnosticada. Na época, fui colocada no grupo dos desatentos, e fiz seis meses de terapia psicopedagógica, focada principalmente nas estratégias de aprendizado. Eu estava no primeiro ano da faculdade, fui reprovada, e precisei reaprender a estudar, para não ser reprovada mais uma vez. Infelizmente, naquela época, não encarei a terapia psicológica. Aquela, que cuida de todos os aspectos da vida. Por que tenho sim muitos problemas advindos das dificuldades sociais e familiares que tive a vida toda, por conta do TDA. Hoje, procuro trabalhar estes aspectos. Uma coisa que mudou neste tempo, foi minha própria percepção do meu transtorno. Em concordância com alguns profissionais da psicologia que me atenderam recentemente, eu diria ser mais o tipo misto, pois tenho algumas características muito claras de impulsividade. As mais fáceis de se observar, no meu caso, são a prolixidade - essa vocês que estão lendo conhecem bem - e o discurso logorreico. Pra quem me conhece melhor, é fácil perceber a confusão deste discurso, por vezes, e também a 'obsessão' por alguns assuntos em específico. 

Há tratamento também para os adultos. Mas o foco passa a ser outro, visto que temos menos plasticidade neural do que as crianças. Aprendemos a criar estratégias e a aproveitar aquilo que temos preservado nos nossos circuitos, para realizar nossas tarefas e suceder em nossos planos de vida. É uma tarefa árdua, mas, no geral, bastante recompensadora. A diferença na qualidade de vida, quando paramos de nos frustrar com os fracassos após os esforços, é facilmente observada depois de um tempo. 


Foto cortesia de ITribuna.



E, é isso, por enquanto. Esta foi uma introdução ao assunto que, por motivos pessoais, eu estudo muito. Ficou com alguma dúvida à respeito disso? Não entendeu alguma coisa? Entre em contato comigo, aqui pelo blog, ou no Facebook (do lado direito da tela), ou qualquer outro meio dado, que eu terei prazer em tentar esclarecer... Prometo que haverá novas postagens em breve sobre o assunto, aprofundando alguns pontos importantes. 

As informações em cinza foram descaradamente copiadas do site da Associação Paulista de Déficit de Atenção (APDA). Excelente site, com muita informação bacana, para desmistificar e ajudar a encontrar caminhos. Aconselho a  todos que deem uma xeretada lá. 





JulyN

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